Mastite: Minha primeira experiência em Pronto Socorro na Irlanda

Na Semana Mundial de Aleitamento Materno ou World Breastfeeding Week, nada melhor do que trazer este tema ao blog. Mastite faz parte da vida de muitas mamães que amamentam.
Como já sabem, sou mamãe há pouco tempo e amamentação é uma parte muito importante na maternidade, mas muitas mamães que lêem meu blog, vão confirmar que amamentar não é simplesmente “mágico”, como nos é vendido por aí . Há contratempos, dificuldades, opiniões diversas, discussões por todos os lados e as mães de primeira viagem sofrem muito com isso. Não sabem o que pensar, muito menos como fazer, por quanto tempo e pior, não sabem que pode doer e doer muito!
Meu blog não é um blog de maternidade, nem quero torná-lo um, mas este tema não é somente maternidade e sim saúde, que é uma grande dúvida de quem está se mudando para Irlanda, se não por necessidade, por curiosidade.

Seguro Saúde

Infelizmente, seja no Brasil ou em qualquer lugar do mundo, você sempre tem que estar preparado para surpresas, e elas podem não ser tão boas. Por isso, a primeira e valiosa dica deste post será: tenha sempre um seguro de saúde quando estiver fora do seu país, independente de ser obrigatório ou não, você pode precisar.
Alguns cartões de crédito internacional fornecem sem custo um seguro saúde, porém a maioria, se não todos, só o disponibilizam esse serviço se a passagem aérea for comprada neste mesmo cartão. Então lembre-se disso, antes de comprar sua passagem, pode ser uma grande economia. Outra opção é contratar o seguro com sua seguradora de preferência, mas não deixe de fazer cotações pois há grande diferença de preços e coberturas entre elas. Também há empresas internacionais que fazem estes seguros online. É o caso da World Nomads que, inclusive, tem um preço super competitivo e, além disso, conheço pessoas que utilizaram o seguro durante suas viagens e foram muito bem assistidas.

Mal estar

Tinha 15 dias que o Felipe tinha nascido e eu sofria com a amamentação. O Felipe ainda não tinha a “pega” correta e por isso, meu peito estava machucado, doendo, leite estava empredando, mas eu não desistia. Sabia que era importante o leite materno para ele e para mim também era. Eu queria saber como era amamentar, para eu mesma ter uma opinião sobre o assunto. Pois como disse acima, todo mundo tem uma. Umas mamães amaram, outras odiaram, outras não tentaram, outras amamentaram por alguns meses, outras por anos, enfim, eu queria viver para saber o que era aquilo.
Foi durante um jantar, que comecei a me sentir mal, sentir frio, falta de apetite, indisposição. Talvez fosse cansaço, enfim, 15 dias que eu havia me tornado mãe, 15 dias que dormia muito pouco. Ainda em fase de adaptação.
Resolvi não jantar e ir pra cama mais cedo, precisava descansar. Os calafrios aumentaram e então medi a temperatura e eu estava com febre. Ainda uma febre baixa, aproximadamente 38 graus, nada que eu precisasse me preocupar muito. Eu ia descansar e se continuasse mal ou piorasse, iria pro hospital no outro dia cedo.
Passei mal a madrugada toda, mas preferi esperar o amanhecer e, pronto, a febre havia piorado, já passava dos 39 e eu estava quase desmaiando. Fui tomar um banho para ir pro hospital e não consegui, quase apaguei no meio do banho, tive que sair com a ajuda da minha mãe. Foi nessa hora que minha mãe viu que meu peito esquerdo estava vermelho, super vermelho. Sinal de mastite. Bora correr pro hospital.

Hospital

Bom, mas que hospital? Não conhecia nada aqui, tinha 3 meses de Irlanda. Não tinha ideia de onde ir.
Eu tinha um convênio médico (Private Health Care), então pensei em escolher um hospital particular. Achamos um no aplicativo do convênio, o Mater Private Hospital e para lá fomos.
Chegando lá, fomos direto ao pronto socorro.
Passei na recepção e descobri que eu estava no hospital público e não no privado. O privado somente funcionava de dia de semana e eu estava lá num sábado. Isso mesmo que você leu, o hospital fecha de fim de semana. Então, fiquei por ali mesmo aguardando atendimento.
Não estava me aguentando sentada, queria deitar, chorar, estava muito fraca, tinha comido muito pouco.
A moça da recepção disse que não demoraria para eu ser atendida, mas o Daniel já estava desesperado querendo me tirar dali e levar em algum outro hospital, talvez outro privado que talvez fosse mais rápido. Eu insisti que ficássemos, pois não queria correr o risco de ir para algum outro hospital com ainda mais fila de espera.
Fui chorar as pitangas com a recepcionista novamente e ela me garantiu que eu seria chamada rapidamente, já era uma das próximas. E assim foi mesmo, pareceu uma eternidade, mas devo ter sido chamada para o atedimento inicial uns 30 minutos após a chegada. Rápido eu diria, acho que nunca fui atendida tão rápida num Pronto Socorro nem mesmo privado no Brasil.
Já no primeiro atendimento, assim como no Brasil, fizeram medição de temperatura, pressão, batimento cardíaco etc. Estava tudo alterado. Febre acima de 39 graus, pressão super baixa, batimento cardíaco acelaradíssimo. Enfim, todos os sinais vitais alterados e quando a médica olhou o seio, confirmou a mastite. Dali não sai mais, já fui internada na hora. Estava complicada a situação, precisavam normalizar meus sinais vitais.

Convênio Médico (Private Health Care)

Fui transferida para uma enfermaria até disponibilizarem o leito para mim. Enquanto eu estava fazendo exames, passou uma pessoa questionando se eu tinha convênio médico e se eu queria utilizar. Era uma opção. Utilizando o meu convênio, eu teria direito a um quarto privado. Por quê não? Disse sim, assinei um papel e pronto, iam preparar meu quarto e me transferir.
Acredito então, que se eu não tivesse o convênio, o atendimento seria igual, mas numa enfermaria, o que na minha opinião, não muda muito, a diferença é que o quarto te dá maior privacidade, só isso.

Amamentação

Como comentei, cheguei num sábado de manhã e acabei ficando até 3a feira no hospital. Foram 4 dias fora de casa e longe do meu filho, recém-nascido. Graças a Deus, minha mãe estava aqui comigo. Fico pensando, se ela não estivesse aqui, como seria? Quem cuidaria do Felipe? Daniel? Mas como, ele trabalha? Complicado, mas, deu tudo certo, ela estava aqui ao meu lado. Obrigada mãe!
Mas, e como amementar o Felipe?
Pois é, isso foi muito difícil para mim. Eu tinha duas opções: ou eu ordenhava (“express milk” como eles falam aqui) e enviava o meu leite para ele ou eu dava o leite em fórmula.
Bem, como eu já teria que ordenhar, pois para ajudar na cura da mastite é necessário manter os seios vazios, por que não aproveitar e já mandar o leite para ele? Assim evitaria que ele tomasse a fórmula e rejeitasse meu leite depois.
Mas eu tinha outro medo… Falavam, como sempre, muitas opiniões, blogs, que se o bebê pegasse a mamadeira, correria o risco de ele não pegar mais o meu peito. Então, dar leite no copinho?
Pois bem, tentamos. A questão é, eu não estava ao lado dele, então o que eu conseguia tirar de leite, era o que tinha disponível para minha mãe dar a ele. E tinha horários para o Daniel vim buscar o leite, enfim, ele trabalhava, não era a qualquer momento. Então, dar no copinho, até funcionava, mas metade do leite era perdido. Tivemos que recorrer a mamadeira e “seja o que Deus quiser”.
Quando foi domingo, aproveitei que o Daniel não trabalhava e pedi que trouxesse o Felipe para eu amamentar. Bingo! Felipe não conseguia pegar meu peito. Desaprendeu… Com 1 dia e ele já não conseguia pegar, ele chorava, e eu… chorava junto, de dor e pensando que ele nunca mais pegaria meu peito. Enfim, eu mesma dei a mamadeira e ele mamou feliz da vida.
Foram os 4 dias assim, eu ordenhando e ele mamando meu leite através da mamadeira.

A Mastite

A mastite, conforme a Dra. Sheila Sedicias do site Tua Saúde, pode ser provocado por entupimento dos canais por onde passa o leite ou pela entrada de bactéria através de machucado nos mamilos, geralmente causada pela amamentação. No meu caso, era bactéria, não havia entupimento em nenhum canal. Isso foi verificado no meu último dia no hospital através de uma ultrassom.

Enquanto isso, no hospital…

Nas duas primeiras noites, suei demais, acordava encharcada. Era efeito dos 2 antibióticos que eu estava tomando e com isso, a infecção estava melhorando e a febre baixando. Continuava com febre, mas já estava bem melhor.
Passavam enfermeiras e médicos o tempo todo para me ver. As enfermeiras, assim como no Rotunda, eram muito simpáticas e atenciosas e eram responsáveis por tirar medir minha temperatura, pressão, batimento cardíaco e ver se eu precisava de algo.
Os médicos, isso era um pouco diferente do que estamos acostumados no Brasil. Não passava um médico, passava uma equipe enorme, parecia uma caravana. Quando entrava a equipe, eram aproximadamente 6 pessoas. O quarto ficava cheio!
Notei que sempre um deles era o médico principal, que se apresentava (mais informalmente que no Brasil) e falava sobre a situação atual, mas junto dele havia mais médicos, que eu imagino que eram estudantes ou médicos com menos tempo de experiência. Estavam ali mais para acompanhar e aprender, mas também faziam exames e perguntas.
Sobre o quarto, o quarto era ótimo! Enorme, tinha um banheiro espaçoso, uma TV, mas sem grandes luxos também. Atendia o que eu precisava. Ah, e tinha uma janela enorma e uma vista sensacional!

E como funcionava a alimentação no hospital?

Assim como no Rotunda, no Matre também tinha uma pessoa que passava todos os dias para verificar o que eu queria comer de café da manhã, almoço e janta no dia seguinte. Mas… a comida do Rotunda, tenho que confessar, que era mais apetitosa. Além disso, no Matre, eles erraram algumas vezes a minha comida. Teve um dia que surtei, porque comi frango no almoço e janta, dois dias seguidos, não aguentava mais. E o frango não era lá essas coisas…
Uma grande diferença era a tal “janta”. Pasmem, a janta era 16h e não serviam nada após este horário. Quer dizer, você podia pedir uma toast com chá por exemplo.
No primeiro dia, era umas 19h e eu questionei a enfermeira sobre a janta, e ela disse “ué, mas você não recebeu” e eu “não, acho que esqueceram de mim”. Aí ela disse que era para ter passado umas 16h. Hahah eu tinha jantado e nem sabia… Para mim, era um lanche da tarde! rsrs
Então, a partir daquele dia, eu comecei a “guardar” parte do jantar para comer mais tarde. rsrs

Alta

De sábado até 2a feira, eu já estava melhor, me receitaram 2 antibióticos, pois o meu grau de mastite era alto e com isso a febre melhorou e eu também me sentia melhor. Queria ir embora.
Fui informada que eu só poderia ir embora quando eu fizesse a ultrassom da mama para ver se havia algum canal entupido e isso aconteceria na 2a feira.
2a feira chegou e eu já feliz da vida que iria embora, mas isso não aconteceu.
Não conseguiram encaixar meu ultrassom para aquele dia e ficaria para o dia seguinte.
Eu estava nervosa, pois meu filho de 15 dias estava em casa e eu presa num hospital por conta de um exame.
Sugeri eu ir embora e voltar pro exame, mas me informaram que se eu tivesse fora do hospital, possivelmente o exame seria para 1 mês depois. Fiquei, não tinha como.
Enquanto isso, Felipe continuava mamando a mamadeira com meu leite. Eu passava o dia ordenhando para esvaziar o peito e não piorar a mastite.
3a feira chegou e logo pela manhã já me levaram para fazer a ultrassom.
Preciso contar este caso!
Veio um rapaz me buscar com uma cadeira de rodas para me levar para o local da ultrassom e fomos conversando. Quando eu disse que era brasileira, ele se assustou e disse “you are too pale to be Brazilian”. O quê? Ele disse que eu era muito pálida/branca para ser brasileira. E eu expliquei que no Brasil tem muitas pálidas como eu (rsrs), que tem gente do “mundo” todo, japoneses, negros, italianos, etc… e ele respondeu “Nossa, eu assisti Cidade de Deus, e achei que todos eram negros no Brasil”. Haja paciência! Rsrs
Bom, voltando ao assunto, fiz a ultrassom e estava tudo ok, tudo limpo, nenhum canal entupido. Eu seria liberada para pegar meu bebezinho no colo de novo!
Voltei ao quarto e já comecei a arrumar minhas coisas. Veio um dos médicos para me dar alta, me deixou uma receita dos antibióticos e avisou que agendaria uma outra ultrassom e que chegaria uma carta em casa com a data e horário. Aqui é tudo sempre com carta, meio antigo mas funciona.
Perfeito, maridão foi me buscar e para casa fui feliz da vida!

Retorno

No dia seguinte que cheguei em casa, já recebi a carta com a data e horário da próxima consulta, que era 1 semana depois.
Lá fui eu e estava tudo ok, a mastite tinha realmente sumido, nenhum resquício, tudo de acordo. Mas ainda não era a data da ultrassom. Chegou outra carta e aí sim era a ultrassom que foi realizado 1 mês depois. Tudo novamente de acordo e limpo!
Naquele momento, eu já estava bem melhor com relação a dor e o Felipe já estava com a “pega” correta. Usei por um período o bico de silicone para cobrir o mamilo machucado juntamente com uma pomada de lanolina. Foi ótimo! Em pouco tempo sarou.

O que achei desta 1a experiência de internação?

Super tranquilo. Confesso que no início quando a tal ultrassom não acontecia, comecei ficar irritada, pensando “No Brasil, isso seria feito na hora”. Mas aí, pensando bem, no Brasil seria feito na hora se eu estivesse num hospital privado com convênio médico, e cá estava eu, num hospital público, apenas o quarto era pago pelo convênio. Então, todos procedimentos, alimentação, serviços, tudo foi pelo sistema público e para mim, está aprovadíssimo! Mais uma vez, eu digo com tranquilidade, aprovado!
Eu não precisei pagar nada, mas já me disseram que quando você vai para o pronto socorro sem indicação do GP, você paga €100 como uma contribuição ao sistema de saúde. E a internação para quem não tem convênio médico, custa €75 por dia, com teto de €750 por ano, qualquer valor que ultrapassar isso é coberto pelo governo (mais informações: http://www.hse.ie). No meu caso, entrei e fiquei sem custo algum.

Agora, minha opinião sobre amamentação

Felipe completou agora seus primeiros 4 meses de vida… E a amamentação já se tornou algo muito natural para nós dois.
Eu diria que essa foi a parte mais difícil da maternidade, até o momento. Foi sofrido sim, dolorido, já contei tudo o que aconteceu, e demorou para mim uns 3 meses para ficar algo indolor.
Mas, ainda acho que vale a pena. É natural, saudável para o bebê e muito prático!
Eu que vivo passeando, de um lado pro outro, nem preciso me preocupar em preparar nada.
Deu fome, dou o peito! Onde eu estiver!
Aqui na Irlanda, eles não são muito acostumados com isso. A grande maioria das mulheres dão mamadeira. Costume. Então, eu tento ser discreta na hora de amamentar, encontrar um cantinho para ficarmos confortáveis, eu e o Felipe.
A minha opinião é: Faça como seu coração diz que tem que fazer. Ser mãe já não é uma tarefa simples, então, se você puder amamentar, ótimo, realmente o leite materno é um alimento muito completo para seu bebê! Se não, tudo bem também! Se você não pode amamentar, não teve leite, ou alguma outra dificuldade, não se culpe, você não é menos mãe por isso!
Há uma cobrança muito grande sobre as mães, para sermos perfeitas. Mas isso não existe! Portanto, siga seu coração e se respeite também.
Lembro que quando fui dar mamadeira para o meu filho no hospital, eu chorava e minha mãe dizia “Filha, você não está fazendo mal para o bebê, isso é o que você consegue dar a ele agora.” E é verdade, não podia fazer diferente e tudo bem! 🙂
Minha mensagem final é: Seja a mãe que você consegue ser, dê o seu melhor! Cada um tem um limite, suas necessidades e dificuldades!!!

Beijos e até o próximo post!

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2 Replies to “Mastite: Minha primeira experiência em Pronto Socorro na Irlanda”

  1. Parabéns pelo seu blog!! Você apresenta informações super importantes para quem quer ir pra Irlanda com a família (Eu). Continue com esse trabalho… Uma pergunta, qual o seu plano de saúde? Estou pesquisando esse assunto..

    Abraços

    1. Maria Helena says: Responder

      Olá Thiago, tudo bem?

      Desculpe pela demora na resposta, mas estou no finalzinho da gravidez, com bebê pequeno e está meio corrido. rsrs
      Obrigada pelo feedback sobre o blog. Fico muito satisfeita e feliz em ajudar as pessoas, pois sei que é bem difícil mudar de país sem conhecer outras pessoas.
      Sobre o seguro saúde, o meu é Laya Healthcare, mas conheço muita gente que tem VHI. Então dá pra dar uma olhada nos preços para comparar. 🙂
      Abs!!!

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